Pesquisa com pacientes da FCecon aponta depressão e baixa autoestima como resultado de retirada do pênis

Depressão, baixa autoestima e ansiedade são alguns dos sentimentos que afetam homens que passam pela penectomia – retirada total ou parcial do pênis –, em decorrência de câncer. Esse é o resultado parcial de uma pesquisa realizada com pacientes portadores desse tipo de neoplasia na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM).

Denominado “Masculinidades revisitadas: Concepção de homens com câncer de pênis sob o viés da Fenomenologia de Heidegger”, o projeto é conduzido pela mestranda do Programa de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), psicóloga Larissa Migliorin da Rosa, e busca entender a vida antes e após o diagnóstico do câncer de pênis. Segundo ela, quando a doença é descoberta, esses pacientes sofrem alterações físicas e emocionais, às quais se soma a retirada do pênis quando o câncer não é tratado a tempo.

O câncer de pênis é causado pelo Papilomavírus Humano (HPV) de alto risco associado a outros fatores, como a fimose e a não higienização adequada do órgão, explica o urologista da FCecon e membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Giuseppe Figliuolo.

“A unidade hospitalar registra 15 casos desse tipo de neoplasia ao ano. No Amazonas, a doença atinge principalmente homens entre 21 a 55 anos, devido à falta de informação e higiene”, alerta.

Pesquisa – O projeto iniciou em 2019 e conta com o apoio da Diretoria de Ensino e Pesquisa (DEP) e do Serviço de Psicologia da Fundação Cecon, que auxiliam com a identificação dos pacientes. Foram entrevistados cinco homens, entre 57 e 60 anos, que passaram pela penectomia. Migliorin também conta com bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Perfil socioeconômico – De acordo com Migliorin, são pacientes com baixos níveis socioeconômicos oriundos do interior do Amazonas. “Devido às dificuldades logísticas e econômicas, esses homens demoraram a buscar o tratamento e, por conta do estágio avançado da doença, têm o pênis amputado. Soma-se a tudo isso o sofrimento por estar distante da família e o medo da morte. São situações que causam restrições físicas e emocionais”, lamenta.

Sexualidade – Segundo a psicóloga, após a retirada total ou parcial do pênis vem o pensamento de como será a vida sexual, o relacionamento com a esposa e/ou parceira. Ela explica que o homem relaciona o pênis com a sua identidade, masculinidade, de modo que a perda acarreta questionamentos quanto à sexualidade.

“Normalmente, esses pacientes vêm de uma relação duradoura, então a cura da doença é mais importante para a parceira que a relação sexual. O homem relaciona sexo apenas com penetração, porém é preciso dar novo significado ao ato, buscando novas formas de prazer, novas zonas erógenas. Dessa forma, o sexo pode se tornar até melhor do que antes”, frisa Migliorin.

A psicóloga do Serviço de Psicologia/FCecon, Larissa Lins, explica que existe uma cobrança social de uma invulnerabilidade do homem, devido a uma visão deturpada de masculinidade. “O homem entende que buscar cuidado é uma função passiva, que está ligada apenas ao mundo feminino. Infelizmente, isso o impede de procurar cuidados médicos”, pontua.

Atendimento – Segundo Larissa Lins, os pacientes da Fundação Cecon recebem atendimento individual, de casal ou familiar no âmbito ambulatorial, o qual dependerá da demanda, e os internados são acompanhados no leito. Ela explica que, durante o acompanhamento psicológico, o paciente realiza reflexões de autovalorização e de tolerância quanto os desafios que sustentarão sua motivação e saúde mental neste momento delicado.

“Os aspectos da vida do homem referentes à sua capacidade de provimento familiar, proteção aos entes, virilidade e sexualidade são estruturantes na identidade masculina. É por isto que o adoecimento oncológico na área sexual e reprodutora do homem o afeta tanto, pois ameaça suas atividades cotidianas em todos estes fatores citados”, destaca Larissa Lins.

Texto:  Luís Mansueto/FCecon

Fotos: Luís Mansueto/FCecon e Divulgação