Alimentos de procedência duvidosa e água contaminada podem contribuir para o aparecimento do câncer de estômago

O hábito de se alimentar na rua, com comida de procedência duvidosa, ou o consumo de água sem o tratamento adequado, podem ser agravantes para o desenvolvimento do câncer de estômago, tipo da doença considerado o segundo mais frequente entre os homens e o terceiro entre as mulheres no Amazonas. Isso porque, eles podem levar à contaminação pela bactéria H-Pylori, um dos principais fatores de risco para a doença, e que tem acesso ao organismo por via oral, explicou o cirurgião do aparelho digestivo da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), Sidney Chalub.

Doutor em terapêutica cirúrgica, Chalub, que compõe o Serviço de Cirurgia Oncológica Abdominal da instituição, hoje considerada referência no diagnóstico e tratamento do câncer em toda a Amazônia Ocidental, revela que cerca de 50% da população mundial possui a H-Pylori no organismo, conforme estudos recentes. Contudo, uma pequena parcela chega a desenvolver doenças a partir dela, como gastrites, úlceras gástricas e dois tipos de câncer, sendo o mais comum o adenocarcinoma ou, em casos mais raros, o linfoma malt (Musoca Associated Lynphoid Tissue).

A bactéria pode ser contraída tanto por crianças como por adultos, mas, quando se trata de neoplasias, a maioria dos casos acontece em pessoas com idade a partir de 40 anos. O diagnóstico pode ser feito através da endoscopia com biópsia e necessita de acompanhamento durante o tratamento.

Causa e tratamento

A causa da doença, explica Chalub, não é necessariamente a bactéria em si, e sim a inflamação ocasionada por alguns subtipos dela. “Alguns subtipos produzem substâncias que contribuem para a formação do processo inflamatório, o qual pode passar de uma simples gastrite a uma úlcera gástrica e, daí, chegar a um câncer, quando não tratada a tempo. O desenvolvimento do câncer, a contar da  contaminação pela bactéria, pode ocorrer em até 20 anos”, destacou.

ca de estômago 1

Neoplasias malignas, como o adenocarcinoma, exigem um tratamento mais extenso, que pode necessitar de cirurgias e/ou quimioterapia, ambos realizados gratuitamente pela FCecon, vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (Susam). No caso do linfoma Malt, o menos frequente, apenas o tratamento para erradicar a bactéria, feito através de antibióticos, pode resolver a questão, quando se trata de tumores de baixo grau, ou seja, aqueles diagnosticados precocemente.

Pessoas que possuem apenas a bactéria ou gastrite ocasionada por ela, passam por um curto tratamento, com duração média de 14 dias, baseado em antibióticos e medicamentos que reduzem a acidez estomacal. Este mesmo tipo de intervenção é indicada a pessoas cuja bactéria é diagnosticada, mas que não possuem inflamação, desde que tenham parentesco com pessoas que contraíram o câncer de estômago. Trata-se de uma medida preventiva neste caso.

Fatores de risco

Outros fatores que podem aumentar as chances de desenvolvimento do câncer de estômago são: consumo excessivo de sal (principalmente se associado à bactéria H-pylori) e de hidrocarbonetos – presentes no carvão e que podem passar para o alimento enquanto estiver assando na churrasqueira, se a carne estiver muito próxima ao fogo.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), vinculado ao Ministério da Saúde (MS), o Amazonas deverá registrar, este ano, 370 casos de câncer de estômago, a maior parcela entre os homens. No Brasil, a previsão é de 20,3 mil casos em 2015.

De acordo com o cirurgião Sidney Chalub, na fase inicial, o câncer de estômago é assintomático. Quando mais avançado, ele apresenta sintomas similares ao de uma gastrite, como queimação, dores na região abdominal, enjoo, sensação de saciedade, anemia por deficiência de ferro sem causa aparente e refluxo.