Tratamento com laser minimiza efeitos da radioterapia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço

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Pacientes com câncer de cabeça e pescoço, submetidos ao tratamento de radioterapia, agora contam com uma nova técnica para tratar sequelas como úlceras (feridas) e alterações na produção de saliva (xerostomia). A laserterapia faz parte de um estudo desenvolvido via Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (Susam). “Nosso principal foco é criar ou atualizar protocolos que promovam o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida do paciente oncológico”, explicou a engenheira biomédica Ana Paula Lemes, diretora-presidente da Fundação.

O projeto de pesquisa é desenvolvido pela acadêmica de odontologia da Universidade Nilton Lins, Bruna Giovana de Sousa Costa Santa Cruz, sob a orientação da odontóloga da FCecon, dra. Lia Ono. Ela explica que a aplicação do laser estimula a produção de saliva, que por sua vez, ajuda a proteger a boca e contribui para a lubrificação dos alimentos, facilitando na mastigação e auxiliando no processo digestivo.

A laserterapia já é utilizada em grandes centros de referência no País, como os hospitais A. C. Camargo Cancer Center, Hospital Israelita Albert Einstein e Sírio-Libanês, todos situados em São Paulo (SP). O foco, nessas unidades, é o tratamento de feridas na boca, denominadas mucosite. “Estamos em processo de implantação dessa técnica na FCecon. A meta é definir o protocolo para pacientes que passaram por radioterapia nas regiões de cabeça e pescoço”, pontuou.

A técnica, na FCecon, trata, entre outras patologias, a Xerostomia, mais conhecida como boca seca, ocasionada pela diminuição da função das glândulas salivares, por ocasião da radiação. “A baixa produção de saliva ou a ausência é comum em pacientes que fizeram tratamento oncológico nas regiões de cabeça e pescoço. Isso ocorre porque as células sadias das glândulas salivares morrem e formam um tecido fibroso. Entretanto, algumas não são afetadas, outras não sofrem danos graves, mas param de produzir saliva”, explicou Lia Ono.

O projeto teve início em agosto de 2017. Os primeiros pacientes foram selecionados em setembro de 2016. A pesquisa é realizada via Departamento de Ensino e Pesquisa e recebe apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Aplicação de laser

O laser atua nas células inativas. Os pacientes relatam, a partir da quarta seção, melhorias na produção de saliva, mesmo necessitando dar continuidade à terapia. “O laser tem potencial anti-inflamatório e regenerador, ao promover a energia para a célula. Quando ela se regenera, volta a produzir saliva. Nem todas apresentam viabilidade de recuperação, mas uma parte significativa, consegue ter a função restabelecida. O procedimento está sendo feito em seis pacientes, mas a expectativa é chegar a dez até o final da pesquisa, que terá a duração de um ano”, frisou a odontóloga.

O Designer Gráfico D.V, 33, é um dos pacientes atendidos na unidade hospitalar para o tratamento de Xerostomia. Ele disse que teve conhecimento sobre o uso do laser durante consulta na Fundação. “Perguntaram-me se eu tinha interesse em participar e eu disse que sim. Apesar de não ter mais esperança, submeti-me ao procedimento”.

Ele começou as aplicações no dia 23 de fevereiro e está na quinta seção, comemorando os resultados positivos. “Foi perceptível a melhora. Sempre me alimentei com um copo de líquido ao lado. Mas, ao final da refeição, percebi que não tinha ingerido a bebida. Fiquei surpreso!”.

Com 12 anos de idade, ele foi diagnosticado com câncer na região de cabeça e pescoço, doença rara para essa faixa-etária. Um ano após o início do tratamento, começou a apresentar contrações involuntárias dos músculos, atrofia do lado direito do rosto, dificuldade de abertura de boca, além da sensação de boca seca. “Procurei orientações médicas, mas sempre diziam a mesma informação: era necessário aprender a lidar com assequelas. Mas hoje a situação é bem diferente”, comemorou.

Critérios de inclusão

Conforme a estudante do 9º período de Odontologia da Universidade Nilton Lins, Bruna Giovana de Sousa Costa Santa Cruz, participante do projeto, para ser incluso na pesquisa, o paciente responde a um questionário validado na literatura e passa por procedimento para medir o fluxo salivar, utilizado para estabelecer o grau de Xerostomia. Pessoas com fluxo salivar menor que 0,7 ml/min (considerado insatisfatório), são selecionadas para aplicação do laser.

Infecção oportunista

A infecção oportunista mais comum em pacientes com Xerostomia é a candidíase, que é causada por um fungo chamado Candida Albicans. Ele convive normalmente com outros microrganismos da boca. A diminuição de saliva causa o desequilíbrio e o aparecimento da doença. A candidíase interfere no paladar do paciente, causa ardência e desconforto. No bebê, é visto em forma de “sapinho”.
Radioterapia

Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada.