Procedimento cirúrgico garante abordagem minimamente invasiva no tratamento do câncer de colo uterino

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A Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (Susam), registrou mais um avanço no tratamento do câncer de colo uterino, dessa vez, na área cirúrgica. Em janeiro deste ano, a equipe de cirurgia oncológica da instituição, passou a realizar parte das remoções uterinas (as histerectomias radicais) por videolaparoscopia. A técnica consiste basicamente em pequenas aberturas – muito inferiores às das cirurgias convencionais – e na utilização de pinças e de uma microcâmera, garantindo uma abordagem minimamente invasiva e de rápida recuperação, explicou o cirurgião oncológico da unidade hospitalar, Manoel Jesus Pinheiro Júnior.

Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão subordinado ao Ministério da Saúde (MS), o Amazonas é o estado brasileiro que apresenta maior número de casos da doença entre as unidades da federação. A projeção mais recente do Instituto aponta 680 diagnósticos de câncer de colo uterino, o equivalente a 37 casos para cada 100 mil mulheres no Estado, conforme a taxa bruta de incidência.

Histerectomia radical

Segundo Manoel Jesus Pinheiro Júnior, três mulheres já foram submetidas à cirurgia minimamente invasiva, neste ano, na FCecon, para o tratamento do câncer de colo uterino em estágio intermediário. Todas apresentaram recuperação satisfatória. O especialista explica que os casos da doença são classificados conforme o estadiamento, que aponta a extensão da lesão cancerosa no organismo. A tabela de estadiamento varia de I a IV, e conta com diversas subdivisões. Na fase inicial, a histerectomia pode se mostrar uma terapia eficaz e, na maioria dos casos, não necessita de complementação de quimioterapia e/ou radioterapia.

Nas fases mais avançadas, esse tipo de cirurgia é descartada, indicando-se a associação de quimioterapia e radioterapia no combate à lesão maligna e remissão da doença. “Ressaltamos que ainda há um segundo tipo de procedimento cirúrgico, que pode ser aplicado a mulheres com câncer de colo uterino avançado, que já passaram por quimio e radioterapia e que não responderam apresentaram resultados insatisfatórios. Chamamos de tratamento de resgate”. Denominada exenteração pélvica, a cirurgia abrange a retirada de bexiga urinária, uretra, vagina, colo uterino, útero, tubas uterinas, ovários, reto, ânus e, em alguns casos, a vulva, e só é indicada quando constatada a disseminação da doença para os demais órgãos, comprometendo-os integral ou parcialmente.

Quimioterapia

A gerente do Serviço de Oncologia Clínica da FCecon, Dra. Brena Uratani, explica que na doença localizada, a quimioterapia é considerada um tratamento complementar, que potencializa a ação da radioterapia sobre o tumor e aumenta a sobrevida do paciente. Ela é composta por ciclos, que consideram as características individuais do paciente e o tipo de patologia que ele apresenta. “Quando o tumor é delimitado e não envolve outros tecidos, geralmente, a indicação é cirúrgica. Nesse estágio, a doença é assintomática. Os que ultrapassam essa medida, são encaminhados para a quimioterapia e radioterapia. A resposta, dependendo do tamanho da lesão, pode ser completa ou necessitar de cirurgia posteriormente. Cada caso é único”, explicou.

O tratamento bimodal (radioterapia e quimioterapia) apresenta uma taxa de resposta positiva em pelo menos 60% dos pacientes com doença em estágio intermediário (estágios 2 e 3 de uma classificação que vai até 4 no estadiamento). Nos casos mais avançados, o tratamento objetiva aumentar a sobrevida dos pacientes.

De acordo com a especialista, a maioria das mulheres dá entrada para tratamento na FCecon com casos de câncer de colo uterino em estágio avançado. “Quando o câncer começa a progredir, apresenta um sangramento que parte das mulheres confunde com um processo secundário à menstruação ou com alguma alteração hormonal, o que retarda a investigação”.

Um projeto-piloto da Comissão de Padronização de Medicamentos da FCecon, considerado uma conquista pelos oncologistas clínicos da unidade hospitalar, incorporou, recentemente, uma droga utilizada para outras finalidades, na lista de medicamentos de o combate ao câncer de colo uterino em estágio avançado. Hoje, seis quimioterápicos de alto custo fazem parte dessa lista na instituição.

O câncer de colo uterino se desenvolve através de uma lesão cronificada pelo Papiloma Vírus Humano (HPV), que pode ser constatada através de um exame simples: o Papanicolau, indicado para ser realizado anualmente, a partir do início da vida sexual.

Radioterapia

O gerente do Serviço de Radioterapia Abelardo Pampolha, radioterapeuta Leandro Baldino, explica que o tratamento de radioterapia evoluiu significativamente, nos últimos anos, com o advento de novas tecnologias. No caso da FCecon, que passou a contar, há alguns meses, com o suporte de um acelerador linear, equipamento de ponta para esse tipo de terapia, mulheres portadoras do câncer de colo uterino também foram diretamente beneficiadas. “Hoje, ofertamos um tratamento que é mais concentrado na região do tumor, preservando os tecidos vizinhos e promovendo menos sequelas e mais qualidade de vida aos pacientes em geral”, destacou. Ele lembra que a FCecon também conta com a modalidade de braquiterapia, bastante utilizada em pacientes com câncer de colo uterino, pois atinge internamente as lesões, reduzindo os tumores através do efeito direto da radiação.

“A radioterapia, atualmente, pode ser aplicada a mulheres com câncer de colo uterino em diversos estágios, com o objetivo curativo e também de aumento da sobrevida”, destacou.´Todos os tratamentos são ofertados gratuitamente pela FCecon e a indicação dos mesmos depende do estado clínico de cada paciente, fator que é analisado individualmente por equipe multidisciplinar.