Pesquisas sobre câncer elevam a qualidade da assistência em oncologia

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A Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, realizou, na última semana, a avaliação dos resultados preliminares de 35 pesquisas executadas via Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic). O objetivo dos trabalhos é promover o aperfeiçoamento dos protocolos de combate ao câncer, melhorando a qualidade de vida de quem luta contra a doença e, de quebra, incentivando o ingresso de acadêmicos no meio. A atividade acontece anualmente e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).

 

Os estudantes envolvidos nas pesquisas se revezaram ao longo dos dois dias, em apresentações orais, para apresentar os resultados parciais e demonstrar a relevância dos projetos a uma banca formada por pesquisadores doutores. Foram abordados os mais diversos assuntos relacionados à saúde do paciente oncológico, tais como: a qualidade de vida; perfil clínico para determinados tumores; qualidade da vida sexual e função erétil de pacientes com câncer no pênis; e frequência de candidíase oral em pacientes submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço.

 

A diretora de Ensino e Pesquisa da FCecon, Dra. Kátia Luz Torres, explicou que a Fundação tem um histórico de apoio à iniciação científica, cujo objetivo é inserir a pesquisa na vida acadêmica do estudante. “A FCecon realiza o atendimento multidisciplinar dos pacientes e, consequentemente, os trabalhos têm a mesma característica. Além da pesquisa enriquecer a aprendizagem do aluno, as informações poderão contribuir, futuramente, com o prognósticos e com as condutas terapêuticas”, observou.

 

Para a avaliadora externa e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luciana Botinelly Mendonça Fujimoto, é perceptível a evolução na qualidade dos projetos apresentados e como eles têm contribuído para a formação de novos profissionais. “Os trabalhos de iniciação científica dão qualidade ao serviço assistencial prestado pela Fundação, capacitam os profissionais, ajudam na terapêutica, no diagnóstico, em novos protocolos e melhoram a qualidade de vida do paciente. Eles são primordiais”, destacou.

 

A cada ano o Paic tem ganhado mais robustez, segundo Luciana Fujimoto. Ela disse aprende muito com as pesquisas sobre situações que não são comuns ao seu dia a dia, apesar de participar como avaliadora.

 

Pesquisas apresentadas

 

O projeto “Avaliação da Prevalência da Infecção pelo Papiloma Vírus Humano Associado (HPV) ao Carcinoma Escamocelular de Cabeça e Pescoço Tratado Cirurgicamente na FCecon, no período de 2015 a 2018” foi um dos apresentados durante o Paic. Desenvolvido pela estudante do 3º período de Medicina da Universidade Nilton, Camilla Holanda Pereira, o estudo analisou as amostras de 55 pacientes tratados cirurgicamente na unidade de saúde, que hoje é considerada referência na Amazônia Ocidental.

 

Coordenado pela doutora em Clínica Odontológica, odontóloga Lia Mizobe Ono, a pesquisa avaliou a associação do Papiloma Vírus Humano (HPV) ao tabagismo e ao consumo de álcool, no desenvolvimento dos cânceres de cabeça e pescoço. A análise de dados foi feita diretamente nos prontuários. Foram observadas também informações como a idade, carga tabágica, tipo de câncer e o tamanho da lesão.

 

A análises dos prontuários apontou que a maioria dos pacientes tinha o hábito de consumir álcool ou de fumar. “Somente 28% não fumavam e nem consumiam bebidas alcoolicas. Participaram da pesquisa pacientes do sexo masculino, pardos e com idade média de 60 anos. Já foram analisadas 20 amostras, restando 35 para a conclusão”, pontuou.

 

Camilla Holanda explicou que o HPV também está presente em pessoas jovens e é transmitido, por exemplo, através da prática do sexo oral sem o uso de preservativos. Por isso a população precisa ter o conhecimento que o HPV não está relacionado somente ao câncer de colo de útero. “Esse é o pensamento popular. Todavia, é um equívoco. Outras regiões do corpo podem ser afetadas pelo vírus”, alertou.

 

Incidência de câncer da cavidade oral

 

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 110 novos casos de câncer na cabidade oral sejam diagnosticados, em 2018, no Amazonas, sendo 80 deles, em homens. O câncer de boca é um dos mais comuns na região de cabeça e pescoço, que abrange, ainda, a tireóide, laringe, faringe, entre outros.

 

Incidência de câncer de pulmão

 

A alta taxa de mortalidade de pacientes com câncer de pulmão, que está associado ao tabagismo, também foi abordada durante as apresentações do Paic. O problema foi tratado pelo projeto “Câncer de Pulmão no Estado do Amazonas: Um Estudo Epidemiológico com Base Hospitalar”, no qual se avaliou o quadro clínico predominante e a prevalência de tabagismo.

 

Desenvolvido sob a coordenação do médico especialista em cirurgia torácica, José Correa Lima Netto, a pesquisa analisou as informações de pacientes disponíveis nos prontuários físicos e no Sistema de Gestão Hospitalar “iDoctor”, entre o período de 2003 a 2012.

 

A pesquisa iniciou em 2016 e está em seu segundo ano. A expectativa é de que sejam analisados 320 prontuários ao longo do projeto. Até o momento foram avaliados 104 prontuários, dos quais 71,1%, do sexo masculino. Observou-se que o tipo de tumor mais encontrado foi o Adenocarcinoma (44,2%) – derivado de células glandulares epiteliais secretoras, e que pode afetar quase todos os órgãos do corpo; seguido pelo Carcinoma Espinocelular (31,7%) – neoplasia das células espinhosas presentes na epiderme.

 

Conforme o estudante do 10º período de medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Pablo Marques Reis, um dos motivos para o baixo índice de sobrevida de pacientes que desenvolvem a doença, que tem alto índice de óbitos, é o diagnóstico tardio, uma vez que os tumores pulmonares são assintomáticos nos estágios iniciais. “Trata-se de uma enfermidade silenciosa, cujos sintomas são associados a outras doenças menos letais, o que pode levar a um atraso do diagnóstico em relação à história natural da doença”, alertou.

 

Pablo Marques explicou que o projeto analisou as características epidemiológicas dos pacientes diagnosticados com o câncer de pulmão. “Uma pesquisa anterior também se empenhou em fazer o levantamento dos pacientes portadores de tumores malignos, com base nos prontuários da Fundação, entre o período de 1990 e 2003. Focamos no período posterior a 2003”, pontuou.

 

Durante a análise dos prontuários, conforme Pablo Marques, constatou-se o aumento do número de diagnósticos causados de Carcinoma Epidermoide e Adenocarcinoma em mulheres. “Até pouco tempo atrás, o câncer de pulmão era associado, erroneamente, ao sexo masculino. O aumento da incidência em mulheres tem demonstrado o contrário, principalmente porque as mulheres estão fumando mais”, observou.

 

Novos casos – Conforme o Inca, a estimativa de novos casos de câncer na traqueia, brônquios e pulmão, para o ano de 2018, é de 370 para o Estado do Amazonas, sendo 220 e 150 casos, respectivamente, em homens e mulheres.

 

Tabagismo – Segundo informações do Inca, o cigarro é o maior fator de risco evitável de adoecimento e morte no mundo. O tabagismo está associado a vários tipos de câncer (pulmão, cavidade oral, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo do útero e leucemias) e é responsável por cerca de 30% das mortes por câncer.

 

O principal câncer associado ao tabagismo é o de pulmão. Fumantes chegam a ter 20 vezes mais chances de ter esse tipo de câncer que os não fumantes; 10 vezes mais chances de ter câncer de laringe e de duas a cinco vezes mais chances de desenvolver câncer de esôfago.