Na FCecon, fonoaudiologia auxilia em recuperação de pacientes que perderam a fala

Uma das sequelas mais graves dos cânceres de cabeça e pescoço é a perda da fala, que resulta em problemas sociais e emocionais. Na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (Susam), os pacientes oncológicos fazem acompanhamento com fonoaudiólogos para recuperarem a capacidade de se comunicar por meio da voz ou reduzirem os efeitos das cirurgias mais radicais.

Adalberto Paixão da Silva, de 68 anos, é um dos pacientes que realizaram acompanhamento com o serviço de Fonoaudiologia da Fundação Cecon. Ele foi diagnosticado, em 2010, com câncer na laringe, depois de sentir fortes dores na garganta quando se alimentava e ingeria líquidos. O paciente passou por uma laringectomia total, que é a retirada da laringe, depois de ser encaminhado para tratamento na FCecon.

“Foi preciso eu fazer uma cirurgia porque o câncer comprometeu a minha laringe e as cordas vocais. Eu perdi a minha voz, fiquei cerca de seis meses sem falar nada. Eu não me comunicava, porque tinha muita vergonha, me sentia triste”, conta Adalberto, que logo após a cirurgia, foi encaminhado para o acompanhamento com os fonoaudiólogos da Fundação com o principal objetivo de aprender a falar novamente.

Sequelas – A perda da fala e a dificuldade para beber e comer são muito comuns em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, especialmente aqueles que tiveram casos avançados e precisaram retirar partes de órgãos, como a laringe, segundo a fonoaudióloga da FCecon, Márcia Pastor.

O trabalho com a Fonoaudiologia é um passo importante para recuperar ações funcionais do corpo.

“O trabalho feito pela Fonoaudiologia na Fundação Cecon é mais voltado aos pacientes que, após o câncer e seu tratamento, tiveram sequelas na voz, na fala e na deglutição. Fazemos a avaliação, e cada caso é tratado de acordo com as suas especificidades, mas aplicamos técnicas e métodos que possibilitam ao paciente voltar a comer pela via oral e sentir o sabor dos alimentos. Também aplicamos métodos para melhorar a voz do paciente, tanto para melhorar a voz quanto para melhorar a fala”, explica Márcia Pastor.

Recuperação – No tratamento de recuperação, estão exercícios realizados nos pacientes em consultas no Ambulatório da fundação e a orientação para repeti-los em casa, como a voz esofágica, que foi a técnica utilizada no caso do paciente Adalberto. Com o método, o ar entra no esôfago do paciente e é expulso imediatamente em forma de fala.

Além desta e de outras técnicas, o serviço de Fonoaudiologia da FCecon orienta os pacientes a realizarem exercícios musculares e ensina técnicas de deglutição para aqueles com dificuldades para comer. Segundo o fonoaudiólogo Mário Henrique, que também atua no trabalho de recuperação, os métodos buscam proporcionar a recuperação total ou melhorias na qualidade de vida dos pacientes.

Autoestima – Recuperar a comunicação por meio da fala traz benefícios não só funcionais, mas emocionais. “É de fundamental importância para a qualidade de vida do paciente recuperar suas funções. Nós utilizamos a voz como nossa identidade e você perder a sua identidade tem um impacto muito negativo para a qualidade de vida dos nossos pacientes”, destaca Márcia Pastor.

Muitos dos pacientes se entristecem com as perdas funcionais e desenvolvem até mesmo quadros depressivos.

Entristecido, Adalberto passou quase um ano sem poder se expressar através da fala, e fez um curso de Libras na tentativa de voltar a se comunicar. Mas foi com os exercícios de Fonoaudiologia que ele alcançou seu objetivo. “Aqui na ‘Fono’ eu fui atendido muito bem, me ajudaram bastante. Hoje, eu posso me comunicar com as pessoas, com minha família, posso fazer meu trabalho. O Cecon faz um serviço ótimo, um trabalho especial”, diz o paciente, já curado do câncer.

Adalberto, que hoje trabalha como obreiro em uma igreja evangélica, fumou por 30 anos e acredita que o tabagismo lhe rendeu o câncer na laringe. Ele faz um alerta: “Se você é uma pessoa fumante, pare com isso. Não faça isso. Vai prejudicar você lá na frente”, afirma.

Julho Verde – Neste mês, é celebrado o Julho Verde, uma campanha de conscientização e prevenção ao câncer de cabeça e pescoço. A doença deve afetar 260 pessoas no Amazonas, em 2020, conforme estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Os cânceres de cabeça e pescoço são comuns na boca, lábios, língua, palato, amígdalas, laringe e tireoide.

A campanha deste ano, encabeçada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), tem como tema “Seu corpo é sua vida. Não o destrua!”. A orientação é para que o paciente esteja atento ao seu corpo e procure ajuda médica o mais breve possível, se sentir algum sintoma ou apresentar lesão na região de cabeça e pescoço, como aftas e rouquidão que duram mais de 15 dias.

 

Texto e fotos: Laís Pompeu/FCecon

*fotos autorizadas pelo paciente